Muitos príncipes europeus, desde o séc. XVI, com a chegada dos primeiros navios portugueses a Lisboa carregados de riquezas orientais, viviam deslumbrados com a beleza das porcelanas da China.
Ante já chegavam porcelanas chinesas à Europa, através do mercado árabe, mas nunca se tinha visto tanta quantidade e diversidade. Os membros da alta nobreza europeia passaram a colecionar belos exemplares para os seus gabinetes de curiosidades, mas ansiavam ter a sua própria produção. Instalavam pequenas manufaturas junto aos seus palácios, só que não conseguiam chegar à fórmula mágica da verdadeira porcelana - vítrea, resistente, deslumbrante. Faltava-lhes um ingrediente fundamental, o caulim, que os chineses, certamente por acaso, já haviam descoberto e usado no fabrico de porcelanas desde o longínquo séc. VII ou VIII, de acordo com relatos árabes do séc. IX.
Desde o século XVI, devido às importações pelas Companhias das Índias, a produção europeia se limitou a copiar toscamente a porcelana oriental, como a produção de Florença, até quando, no fim do século XVII, iniciou-se a produção francesa em Rouen e Saint-Cloud.
Então surgiu nas escavações em Meissen (Alenanha), uma argila branca (com alto teor de caulim) que substituiu a anterior de cor vermelha.
E em 1710 em Meissen, em 1718 em Viena, em 1756 em Sèvres (França) surgiram as grandes manufaturas de porcelana (louça fina, de pasta forte, translúcida, composta principalmente de caolim, feldspato e quartzo, queimada sob alta temperatura) seguidas pelas de Paris, Limoges, Berlim, Nápoles, Buen Retiro (Espanha), Vista Alegre (Portugal), Delft (Holanda), além das inglesas (Derby, Bow, Weddgwood, Worcester, Chelsea, Davenport, etc.
Entretanto a massa produzida em Meissen continuou sendo a mais branca, graças ao caulim existente naquela região e as melhores porcelanas foram as de Meissen e Sèvres com as suas famosas marcas de espadas cruzadas e L entrelaçados, na alemã pelo escudo da Saxônia e na francesa homenageando o Rei Luís XV.
Conta-se que Luís XVI, o último monarca da França, fiel ao hábito de seus antecessores, sempre presenteava os dignitários de outros países com as porcelanas de Sévres e as tapeçarias de Gobelin, que no fundo se constituía em propaganda da excelência destes produtos.
A porcelana é muito apreciada, perdurando como arte até os dias de hoje, especialmente pelas inúmeras possibilidades de pintura e riquíssimas criações que permite. É um meio onde cada artista imprime suas características, sua criatividade e os traços do meio em que vive.
Porcelana de Meissen
A primeira fábrica de Meissem
Na primeira década do séc. XVII, Johann Friedrich Bottger, um químico ou alquimista, a serviço de Augusto, o Forte da Saxónia (ele mesmo um colecionador de porcelanas), descobriu e utilizou o caulim em suas experiências e pôde então fa bricar a primeira verdadeira porcelana europeia.
Em 1710, a partir de um decreto feito pelo Príncipe Eleitoral da Saxônia e pelo Rei da Polônia, a Porcelana Meissen Manufactory iniciou suas atividades no Castelo de Albrechtsburg . Imitada por toda a Europa, a fabrica cultiva e produz há 300 a nos a arte da porcelana artesanal e de luxo sem concessões.
Em Portugal chamam-na frequentemente de porcelana de Saxe.
O luxo das porcelanas produzidas em Meissen está caracterizado na matéria prima utilizada, no artesanato tradicional e em uma estética especial de individualidade, sensualidade e de alta qualidade.
O mais importante para a Meissen foi manter em segredo durante séculos a sua fórmula e a tecnologia de fabricação artesanal. Apenas alguns colaboradores conhecem parte do segredo de fabrico. Este segredo leva o nome de Arcanum.
Em 1718, quando Samuel Stötzel , perito da Meissen, tentou usar seu conhecimento para criar uma concorrência, a Meissen viu a necessidade de criar uma marca registrada pois só desta forma, seria possível provar que a peça era original da Meissen ® porcelanas.
As Swords Crossed - Espadas Cruzadas, que são gravadas nas peças, trouxeram uma marca cuja história e notoriedade a nível global é, ainda hoje, única.
A fama da porcelana de Meissen é legendária e ela manteve a liderança na produção de porcelana artesanal mesmo depois da criação de marcas como KPM, Royal Copenhagen e Hering Berlin.
Atualmente, a situação das fábricas de porcelanas da Alemanha é um tanto delicada. A porcelana de Meissen é um artigo de luxo e a atual crise financeira mundial tem feito cair a demanda por este tipo de produto nos países de primeiro mundo.
Porcelana de Viena
A porcelana de Viena forma, com Saxe (de Meissem) e Sèvres, a trindade ilustre da porcelana artística ocidental.
Fundada em 1718 é, depois de Meissen, que se instalou em 1710, a mais antiga manufatura de porcelana dura, ou seja, a verdadeira porcelana da Europa.
Não teve como Saxe e Sèvres origem oficial, surgiu graças aos esforços de Claudius Inocêncio Du Paquier, que foi, de 1718 a 1744, o seu diretor e principal proprietário.
O primeiro período da Manufatura de Viena e suas peças, atualmente raríssimas e dificilmente identificáveis, têm como características a rudeza da pasta e a pobreza da decoração, sem marcas distintivas ou indicações de qualquer outra espécie.
As dificuldades financeiras e técnicas e a pouca aceitação nos mercados, então servidos por Saxe e pela China, levaram Du Paquier à ruína, somente a visão da Imperatriz Maria Teresa impediu que a manufatura fechasse as suas portas para sempre.
Em 1744, o Estado encampa a obra de Du Paquier e tem início o chamado segundo período. Viena torna-se Manufatura Imperial e daí a sua marca: o escudo dos Habsburgos (A Casa de Habsburgo -em alemão: Haus von Habsburg-também conhecida por Casa da Áustria ou Casa d'Áustria, é uma família nobre européia que foi uma das mais importantes e influentes da história da Europa do século XIII ao século XX.). O valor artístico melhora e a técnica se apura e a porcelana se apresenta já bem ao gosto e à moda do século XVIII — é o chamado período rococó.
A porcelana de Viena, que vai de 1744 a 1784, se apresenta ora imitando a louça de Meissen, ora imitando a inimitável porcelana mole de Sèvres, ora seguindo as linhas da velha porcelana chinesa. Não tem uma característica própria, mas se expande; o segundo período, se não apresenta a riqueza do desenho e da cor, significa, na vida da Manufatura Imperial, a grande época da forma, graças aos grandes modeladores que possuia: Leopold Dannhauser, Josef Niedermayr, Franz Caradea, Anton Grassi.
Dirigiram a Manufatura Imperial, no segundo período; Maierhofe von Grünbühel, de 1744 a 1758; Josef Wolf von Rasenfeld, de 1758 a 1770, e Kessler, de 1770 a 1784.
Em 1784 é nomeado diretor o barão de Sorgenthal. Com êle se inicia o terceiro período da Manufatura, não porque tivesse havido qualquer mudança na estrutura, mas por causa do alto nível de bom gosto e riqueza da fabricação, que deram à Manufatura Imperial de Viena o lugar de destaque que tem no mundo da porcelana. É a época dos belos coloridos, das finas miniaturas e das ricas decorações.
Com a morte de Sorgenthal, começa o quarto e último período da Manufatura. Com excessão do primeiro dos diretores desta época, os demais conduiram-na, às vêzes sem culpa, à decadência e ao fim.
Foram diretores: Niedermayr, de 1806 a 1827; Benjamin Scholz, de 1827 a 1834; Baumgarthner, de 1834 a 1844; Leithner, 1844 a 1856, e Alexandre Lõwe, de 1856 até1864, o fim.
Porcelana
de Sèvres
Fundada há mais de dois séculos e meio, a Manufatura
Nacional de Sèvres é considerada a mais importante fábrica de porcelana da
França. Ela sempre se notabilizou pela excelên cia de suas peças exclusivas que
são muito apreciadas pelo estilo único de decoração e grande valor artístico.
Instalada em um majestoso prédio à margem esquerda do Rio Sena, no Parque Saint
Cloud, apenas dois quilômetros de Paris, a Manufatura Nacional de Sèvres
sempre se destacou das outras indústrias pela qualidade de suas porcelanas,
principalmente por causa do trabalho meticuloso de seus artesãos.
A Fábrica de Sèvres surgiu no segundo quartel do século
XVIII, apoiada na doutrina eco nômica do reinado de Luís XV, que favorecia as
artes e os artigos luxuosos. A manufatura de porcelana de pasta mole foi criada
por Orry de Fulvy, irmão do Controlador-Geral (Finan ças) Orry de Vignory, que
pretendia com isso resolver os seus problemas de dinheiro. Com um capital
inicial de 10 mil libras, convocou alguns artesãos de Chantilly e montou a
fábrica no magnífico Castelo de Vincennes.
A indústria, no entanto, dava grandes prejuízos, causados
principalmente pelos excessivos gastos com suas suntuosas instalações. O Rei
Luís XV assumiu as dívidas e passou então a administrar a fábrica cuja sede foi
transferida para Sèvres em 1756. Além do rei da Fran ça, Madame Pompadour, os
ricos negociantes e a nobreza, todos admiradores das porce lanas de Sèvres,
passaram a proteger a manufatura. Luís XV emprestou a inicial do seu nome para
ser marca das peças. Os dois "L" entrelaçados, com coroa para a
porcelana dura e sem coroa para a cristalina, são as marcas mais antigas de
Sèvres. Letras do alfabeto indicam o ano em que foi fabricada a peça.
Em 1761 Hannong, que havia trabalhado na grande fábrica de Frankental, levou para a manufatura de Sèvres o segredo da chamada pasta dura. Com o descobrimento do caulim em solo francês, em 1765, surgiram porcelanas com esta matéria que, embora de qualida de inferior, marcou um ponto alto no fabrico de porcelana. A descoberta de jazidas de cau lim em Saint-Yrieix, em 1768, que permitiu a fabricação de porcelana dura de alta qualida de, fez crescer a indústria de Sèvres. Ao mesmo tempo as artísticas louças de pasta mole ficavam cada vez mais valorizadas. Foi nesta fase que surgiram as peças com modelos e ornamentos chineses e japoneses. Mas logo a fábrica retornou ao seu estilo único e reve renciado pelos maiores colecionadores de porcelanas da Europa.
Na sua nova sede em Sèvres, a manufatura admitiu grandes nomes em todos os setores: Jean Hellot, que pertencia à academia de Ciências, foi contratado como químico; Duplexis, escultor-fundidor, cinzelador e dourador, foi contratado para dirigir os modeladores e laminadores; Mathieu, esmaltador do rei, foi encarregado da douração e pintura. As primeiras peças fabricadas neste período foram puramente ornamentais: são ânforas, vasos, jarros de grande tamanho e produtos utilizados como decoração nos grandes palácios e residências.
Gravart, Taunay e Caillot foram os descobridores de uma grande quantidade de cores, utiliza das com êxito: o famoso "bleu de roi", conhecido como azul real ou "bleu de Sèvres"; e o azul-turquesa (bleu turquoise). Xzrowet descobriu o "rosa-pompadour", muito utilizado no século XVIII nas decorações das porcelanas. Surgiram também roxo-violeta, o verde-maçã, o verde-folha e o amarelo-claro. Estas cores combinadas foram algumas das inovações da manufatura de objetos de decoração, e também nas bordas dos imensos aparelhos de jantar, onde o colorido, ao lado da decoração em ouro, dava às porcelanas um aspecto suntuoso e real.
Os mais famosos artistas franceses do século XVIII trabalharam em Sèvres: Bachelier, Falconet e Boizot eram os principais modeladores; Caillat era o principal preparador de cores e Hippolyte o encarregado da douração. Outros artistas renomados e talentosos também trabalharam na manufatura, entre eles Pigalle, Le Clerc, Pajou e Le Richel.
Até 1769 a manufatura fabricou uma enorme série de figuras,
grupos e peças puramente decorativas, com alegorias mitológicas. Nas peças
pequenas surgem os cupidos e anjin hos, figuras representando as estações do
ano.
A Revolução Francesa e a queda da Bastilha em 1789, que
causou grande transformação na França e no mundo, gerou nova crise na
Manufatura Nacional de Sèvres. Seu diretor, Regnier, foi deposto e encarcerado.
Somente em 1800, a crise foi debelada, graças a Alexandre Brogniart que
selecionou os melhores artesãos para continuarem trabalhando na fábrica. Depois
de Brogniart, dirigiram a indústria Regnault, Robert, Charles Lauth, Theodore
Deck e Bawmgart.
A porcelana de Sèvres passou a ser administrada pelo poder
imperial, recebendo subsídios regulares e muitas encomendas da elite francesa
assim como do Imperador Napoleão Bonaparte.
Durante o Diretório apareceram os objetos ao gosto do Império, como ânforas, potiches e vasos com decoração criada dentro do estilo, vendo-se nas alças das ânforas figuras de cabeças de Medusa, de esfinges, etc. Encontramos nas decorações dos objetos figuras da Época Napoleônica, retratos de Josefina e Napoleão, depois Maria Luísa, o Imperador e seu filho. Nas jarras e objetos vemos a presença dos cisnes de longos pescoços, que servem de alças. Também aparecem decorações inspiradas na Grécia antiga. A cor mais usada neste período foi o chamado verde-império.
A popularização da porcelana, o aumento da produção industrial para atender o crescimento do mercado e a conseqüente queda de qualidade, não atingiu a fábrica de Sèvres, onde cada detalhe das peças é controlado com rigor. Os artesões passam horas transformando simples utensílios domésticos em obras de arte. Mesmo adotando os modernos fornos elétricos, a manufatura não abandonou os antigos fornos ingleses Milton, do século XIX. Com uma variedade de formas, temas e concepções, a indústria de porcelana de Sèvres continua assinando artesanalmente suas obras. Os artesãos continuam retocando cada peça, perpetuando a difícil arte da pintura em porcelana.
A Manufatura Nacional de Sèvres sempre se anteve fiel a sua origem conseguindo, atra vés dos tempos, aumentar seu prestígio, firmando-se como a mais importante da França.
O Museu de Sèvres, fundado em 1934, guarda muitas obras de arte recheadas de história que hoje são apreciadas por pessoas do mundo inteiro.